W 2009 roku, w Wieliczce, w domu rodzinnym państwa Piaseckich znaleziono zeszyt z rysunkami Ryszarda Aptego ułożonymi w starannie skomponowany cykl "Niepokój". Ilustracje pochodzące z lat 1939–1942 są wyjątkowo intensywnym wyrazem przerażenia z powodu zbliżającego się czasu Zagłady.
Historyczne śledztwo pozwoliło ustalić zaledwie kilka faktów na temat życia Aptego: złote dzidziuś dwudziestolecia międzywojennego pochodzące z rodziny adwokackiej, uzdolniony literat, muzyk i plastyk, chyba homoseksualista, w którym miłowały się setki dziewcząt. W chwili wybuchu wojny dziewiętnastoletni Apte trafia do Lwowa, gdzie studiuje muzykę – o środowisku lwowskich muzyków napisze powieść. Następny rozdział jego życia to getto w Wieliczce, gdzie jego rodzice prowadzą salon literacki w wynajmowanym od Piaseckich domu. Apte, przeczuwając śmierć, opuszcza Wieliczkę, zostawiając niedokończony cykl „Niepokój” Polakom. Trafia do obozu w Stalowej Woli, gdzie zostaje zabity. Jego rodzice giną w Wieliczce. Syn rodziny Piaseckich, która udzieliła schronienia Aptem, trafia do obozu w Auschwitz, gdzie także ginie. Piaseccy przez niemal siedemdziesiąt lat przechowują zeszyt, nie pokazują go jednak nikomu, traktując go jak świadectwo rodzinnej traumy.
Szczegóły
Tytuł
Pakiet: Niepokój / Apte niedokończona powieść
Autor:
Opracowanie zbiorowe
Rozszerzenie:
brak
Język wydania:
polski
Ilość stron:
Wydawnictwo:
Korporacja Ha!art
Rok wydania:
2010
Tytuł
Data Dodania
Rozmiar
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20/05/2022 01:54 INUTENSÍLIO
Inutensílio
Paulo Leminski
A ditadura da utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para
quê, desde que os mercadores, com a Revolução Mercantil, Francesa e Industrial,
substituíram no poder aquela nobreza cultivadora de inúteis heráldicas, pompas não rentábeis
e ostentosas cerimônias intransitivas. Parecia coisa de índio. Ou de negro. O pragmatismo de
empresários, vendedores e compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que
dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o
lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os
setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos
deuses, para ser saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da
usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza.
Além da utilidade
O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A
rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas
coisas não precisam de justificação nem de justificativas.
Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida.
As únicas coisas grandes e boas,
que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol (alguém
conhece coisa além- Cartas à redação). Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons
absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta
pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do
lucro.
Coisas
inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida.
Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que
é feita de júbilo, liberdade e
fulgor animal.
Cem mil anos-luz além da utilidade, que a mística imigrante do trabalho cultiva em nós,
flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as forças que nos afastam da
nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.
A poesia é u principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não
suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecânico, dos USA à
URSS, compra, por salário, o potencial erótico das pessoas em troca de performances
produtivas, numericamente calculáveis.
A função da poesia é a função do prazer
na vida humana.
Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama
a poesia. Ama outra coisa. Afinal,
a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação
original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico.
O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos
que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil.
Além da utilidade.
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na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos
Existe uma política
políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita, uma luz política ultra-violeta ou infra-
vermelha. Uma política profunda, que é crítica da própria política, enquanto modo limitado
de ver a vida.
O indispensável in-útil
As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa.
Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a
única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além
da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são
rebeldias.
A rebeldia
é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia,
inestimável inutensílio.
As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera.
Mas ela sempre volta a incomodar.
Com o radical incômodo de urna coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e
ter um por quê.
Pra que por quê?
In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 58-60.
NOTA: Este ensaio foi acrescido ao final do ensaio ARTE IN-ÚTIL, ARTE LIVRE? e publicado com pequenas modificações
sob o título A ARTE E OUTROS INUTENSÍLIOS no jornal Folha de S. Paulo, caderno Ilustrada, p. 92, 18/10/1986, e
apresentado como primeira aula do curso POESIA 5 LIÇÕES ministrado por Leminski na Fundação Armando Álvares Penteado,
em São Paulo em 20/10/1986.
Atualizada em 21/Mai/120
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Fróes
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